Por dentro de quase nada, mas querendo mostrar o que há dentro de mim. Meu nome é Fabiana e às vezes escrevo coisas.

09 julho 2012

Ah, minha bolha...






Hoje fui à penitenciária feminina. A igreja à qual pertenço trabalha com a restauração de caráter das pessoas lá de dentro, num esquema de 12 passos que nem o dos Alcoólicos Anônimos. Bem legal. Eles avisaram que tinha uma estrangeira lá que falava inglês e queria participar das reuniões. E lá vou eu de intérprete.

É engraçado como, por mais moderninha que eu me sinta, mais vivida e andada neste mundo, Deus ainda me mostra como vivo numa bolha. A bolha do conforto da minha casa e igreja, a bolha da boa educação e oportunidades que meus pais e tutores me proporcionaram. É uma bolha abençoada, mas ainda é uma bolha. O mundo fora dela não está para brincadeira.

O que vejo ali são mulheres em sua maioria sem instrução alguma - não falo somente de analfabetismo, mas falo de falta de princípios basilares da moral, ética, educação. Percebo até certo nível de infantilidade nos comentários que fazem. Não quero entrar na defesa de suas causas, já condenadas pela Justiça, mas defendo que todo ser humano tem direito à sua bolha: uma redoma permeada de carinho, instruções e oportunidades para amadurecer e ser GENTE, com toda a categoria da palavra.

O trabalho que fazemos não tem abrangência em toda a prisão - restringe-se apenas à creche, ou seja, trabalhamos com gestantes e mães de bebês. Isso torna a questão toda mais delicada ainda: elas veem uma nova vida nascendo e desejam ter oportunidade de acompanhar esse processo. Mas suas escolhas do passado não permitirão que isso aconteça. Na maioria dos casos, por causa da falta da bolha.

Agradeça a Deus se você vive numa bolha. Se tem ou teve família, educação, orientação; não é pra todo mundo. E, se doer o coração pensar nisso tudo, faça alguma coisa por quem não teve as mesmas oportunidades que você.