Por dentro de quase nada, mas querendo mostrar o que há dentro de mim. Meu nome é Fabiana e às vezes escrevo coisas.

19 agosto 2010

Uma feliz exceção à regra

“Nasce, cresce, reproduz-se, envelhece e morre.” Não sei se continua sendo ensinado desta forma, mas no tempo em que aprendi na disciplina de Ciências este era o ciclo de vida do ser humano. A minha cabeça fantasiosa sempre procurava as exceções: “Ok, ele nasce. Mas e se não cresce e fica anão? E se não quiser ter filhos? E se morrer antes de envelhecer?” Aquela sequência sempre foi meio furada para mim.

Interessante como a tendência aos ciclos óbvios nos persegue durante toda a vida. A disposição que todo mundo tem em seguir determinada ordem dos fatores para se enquadrar, para ser aceito, para ser feliz. Lembro-me bem que demorei um pouco a tirar carteira de motorista; a princípio porque eu não ligava pra isso. Depois, todos na faculdade, antes mesmo de entrarem ali, já dirigiam. Era a “ordem das coisas”: terminar o ensino médio, tirar carteira, entrar na faculdade dirigindo. Eu estava atrasada. Ou invertendo a sequência. Uma amiga largou os estudos para ir a uma escola de missões. Quase um escândalo na família, pois o passo seguinte ao vestibular, era levar o curso até o fim, e não suspendê-lo para fazer o que quer que fosse. Ouvi que alguém tinha uma ótima proposta de emprego, ou que ia casar, mas optou por viajar para a África e fazer trabalho humanitário. Fulano largou tudo e foi ser músico. Beltrana descobriu que seu maior prazer está na vocação religiosa – deixou de ser advogada e foi ser freira.

Estes são exemplos de pessoas que não seguiram o óbvio da vida. Deixaram seu coração, suas vocações, a voz de Deus falarem mais alto do que todas as outras vozes ao seu redor. Quebraram barreiras em si mesmas, romperam paradigmas nos outros, foram exceções à regra.

Pode-se dizer que o Evangelho hoje está por aí – nos livros, nas igrejas, na mídia, em folhetos, na boca de evangelistas ou em conversas num bar. Deixar Jesus Cristo fazer parte de nossas vidas é um grande passo a ser dado. No entanto, neste contexto, ainda me incomoda viver uma vida como “todo mundo”, seguindo a velha “ordem das coisas”, de ser a mesma pessoa de sempre, com a diferença de que irei à igreja aos domingos. Acredito num Espírito Santo expansivo – que mora dentro de nós, que alarga nossos horizontes e nos instiga a viver mais do que essa regra do “todo mundo”. Creio num Deus que, mesmo no meio de nossa rotina corrida, é capaz de nos mostrar espaços onde podemos deixar seu Espírito Santo agir através de nós, invertendo a ordem, saindo do óbvio, tocando vidas, fazendo algo em prol do próximo ou, quem sabe, da humanidade ou do planeta. Acredito num Pai carinhoso que, com todo amor nos questiona: “E aí, filhinho(a)? Como posso HOJE fazer a diferença neste mundo através de sua vida?” Qual a nossa resposta para este chamado? Seria um SIM, mesmo que isto implique fugir à regra?

Texto publicado em 19/08/2010 no blog Cotidiano e Fé, no Jornal O Povo.

13 agosto 2010

MEDO


Acordei.
Medo de que meus sonhos não se realizem.
Medo de chegar atrasada no trabalho.
Medo de não dar tempo de fazer tudo o que tenho que fazer hoje.
Medo de engordar – que pão gostoso, esse!
Medo desse trânsito, com esses motoqueiros em suas máquinas velozes.
Medo desse homem que pede para limpar o vidro do carro.
Medo dessa audiência de hoje – o que devo falar?
Medo de fazer esse relatório. Medo da reunião sobre o relatório.
Medo desse cara do outro lado da rua… estranho.
Medo de, no dia seguinte, viver outro dia de medo.


MEDO! É incrível como ele é sempre tão presente. Tão humano, mas tão incômodo. Dia desses fiquei de contar quantas vezes sentia esse frio na barriga, a boca seca, os batimentos acelerando – sempre ele. Perdi a conta. Partindo do pressuposto que Jesus é meu Salvador e companhia diária, que Ele me dá segurança mesmo na morte, que promete acampar Seus anjos ao meu redor, que garante estar comigo em todo o tempo, senti-me culpada por sentir tanto medo. E olha que nem me considerava uma pessoa medrosa, mas, diante desses fatos, nem sei como me defender.
Cheguei a uma conclusão: talvez eu não tenha muita noção do tamanho do amor que Deus dispõe sobre minha vida. Por que penso isso? Com base em um princípio bíblico bem básico: “No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.” (I João 4:18). Preciso aperfeiçoar-me no amor de Deus. Entendê-lo com profundidade. Só então passarei a crer que não preciso temer nada. Não que daí em diante Deus me colocará numa redoma ou me dará superpoderes para que eu não tema absolutamente nada. No entanto, terei confiança em meu coração de que até as coisas ruins virão para moldar meu caráter, e até a coisa mais temida neste mundo – a morte – me levará para junto daquele que olha por mim dia após dia.
Talvez eu precise mesmo entender mais este amor, amar mais a Deus e às pessoas. E assim espantar todo o medo pra viver com plenitude o que Deus tem pra mim.
Texto publicado em 13/08/2010 no blog Cotidiano e Fé, no Jornal O Povo.

10 agosto 2010

Sobre crianças e eternidade


Vi um grupo de crianças brincando. Um monte de concreto era um barco, pedras eram torpedos e diziam estar cercadas de tubarões. (Foi impressão minha, ou eu mesma era considerada um desses tubarões, pelo jeito que uma das crianças apontou ameaçadoramente pra mim?). Eu estava ali bem perto, encarregada de cuidar do filho de amigos meus, que brincava naquele grupo de pessoinhas. De repente, já tinham asas, estavam no espaço e todos ao redor eram alienígenas. E a brincadeira prosseguia.

Fiquei pensando: criança pode ser o que quiser. Ela nem sabe o tamanho da vida, nem imagina que está só começando. Só tem a firme e inocente convicção da eternidade, bem como a certeza de que as possibilidades são tantas que a vida se torna uma deliciosa aventura. Morte? O que é morte? Quem lhe explicaria este evento? Nem se quisessem… Em seu coração tudo dura para sempre.

Pensei ainda: Deus quer que tenhamos o coração como o de criança. “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo.” (Mateus 18:3-5).

Ser como criança engloba vários aspectos. Naquele dia, o que mais falou comigo foi essa sensação boa que só Deus pode dar de que o mundo pode ser o que quisermos – basta um olhar diferente, uma atitude diferente. Basta entendermos que a eternidade é real e que o Pai quer que tenhamos esta visão de que realmente podemos ser o que desejarmos, desde que isso sirva para engrandecer o Seu nome.

Que bobos somos nós quando pensamos que mais ensinamos do que aprendemos com as crianças. Elas são verdadeiros mestres das verdades de Deus.


Texto publicado no dia 10/08/2010 no blog Cotidiano e Fé, no Jornal O Povo.