Por dentro de quase nada, mas querendo mostrar o que há dentro de mim. Meu nome é Fabiana e às vezes escrevo coisas.

05 dezembro 2011

Apesar de tudo, humanos!

Hoje, ao deixar minha irmã no trabalho, deparei-me com um engarrafamento sem tamanho. Falar que o trânsito em nossa cidade anda caótico não é novidade pra ninguém. No entanto, uma cena hoje me surpreendeu.

No meio daquela celeuma de carros, motos, buzinas, gritos e pressa, um homem, com a janela do carro escancarada, tentava movimentar-se entre as quatro faixas da rodovia – ele estava na extrema direita, quando deveria estar na extrema esquerda para chegar ao local onde queria. Num trânsito quase que parado, aquilo parecia uma missão impossível.  Ele então, praticamente se lançando para fora de sua janela, sorria, acenava, pedia licença aos outros carros, dirigindo habilidosamente pelo espaço ínfimo, até conseguir chegar aonde queria. Não sei que tipo de urgência o controlava, ou se aquele tipo de comportamento era simplesmente usual para ele; só sei que ele conseguiu o que queria: alcançou a faixa desejada e dobrou à esquerda.

A cena pode deve ter causado vários tipos de sentimento em quem ali estava. Causou-me, contudo, uma sensação que há muito não sentia neste tipo de situação. Ao entrarmos em nossos carros e cerrarmos as janelas, escondendo-nos atrás do fumê nos vidros, dá a sensação de que viramos máquinas, tornamo-nos o próprio carro, movidos pelo combustível da pressa. Por quantas vezes no trânsito não perdi a paciência e, ainda que só mentalmente, disse horrores com a pessoa do carro à frente que me “trancou”, ou com o pedestre que tentava atravessar em tempo e lugar inoportunos, ou mesmo pelo motorista que, distraído ao procurar um endereço, trafegava vagarosamente? Naquele momento, com aquele homem de janela escancarada e estabelecendo diálogo em local inusitado (no trânsito???), percebi com espanto e com atraso que dentro de cada carro daqueles havia um ser humano. Que nem eu: com pressa, sim, mas com muitos outros sentimentos, com família e amigos, e sobretudo com educação e amor suficientes para me valer como pessoa e não como máquina.

Como cristã, fiquei pensando onde estavam escondidos (e empoeirados) o “amar ao próximo como a mim mesma”, ou o “considerar os outros superiores a mim mesma” toda vez que eu entrava no carro. Deus tinha acabado de passar o espanador, então, me fazendo enxergar novamente o ser humano, a pessoa, o amado de Deus que cada um é, ainda que dentro de seu carro-máquina.

(Texto publicado no Cotidiano e Fé, Jornal O Povo, em 14.11.2011)