Por dentro de quase nada, mas querendo mostrar o que há dentro de mim. Meu nome é Fabiana e às vezes escrevo coisas.

30 outubro 2010

A felicidade e as tais horinhas de descuido


Mais um texto da amiga Jamile Fernandes que, com toda certeza, vai pra dentro do meu coração.

Tenho uma amiga que todas as senhas dela são: felicidade. Admiro muito pessoas felizes, principalmente aquelas que são sem motivo, como Carlos Drummond de Andrade dizia “ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”. Acho que pode começar por aí, já sabia disso na teoria, mas na prática...foi preciso até terapia. Como é ruim não se sentir feliz, sempre fui séria demais, responsável demais, medrosa demais, enfim...tudo demais, menos feliz demais. Foi preciso umas boas bordoadas da vida pra fazer sentido pra mim o que ninguém menos que Gandhi afirma, segundo ele não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.

Putz! Como chatice repele, experiência própria...e sem essa de motivos, hoje não acho mais que nem morte, separações, dores e afins são motivo, mas já achei demais e me sentia super protegida pelos tais...mas isso é coisa pra viver um dia de cada vez, porque tem dia que o cabelo não ajuda, que você se comove mais com as suas dores e as do mundo inteiro do que outros dias, enfim...tem dias que o bicho pega! Mas isso é variação do tempo, não é meu clima. Não mais.

Talvez hoje seja um dia assim e escrever me ajuda a fazer que ele não termine assim, porque já percebi que mantras não adiantam, nem versículos decoradinhos, o negócio (pelo menos comigo) é confrontar mesmo e disso não abro mão, deu tanto trabalho entender. Mas que valeu muito a pena, valeu! Tô aprendendo todo dia a perceber as minhas horinhas de descuido preferidas, tipo a de sentar e escrever, outra ótima é fechar o olho e ficar ensaiando os passos do jazz sozinha em casa, e quase morrer de rir de mim mesma quando abro o olho e que tal descobrir o novo cd da Vanessa da Mata? Recomendo a musiquinha “O masoquista e o fugitivo - Há gente que escolhe sorrir, há gente que escolhe chorar, você escolheu a segunda opção, e eu escolhi sair não gosto de masoquismo, eu prefiro me divertir...eu insisto em ser feliz, mesmo que minhas condições me testem.” Ou ainda ir visitar um velho amigo, quem sabe...escrever (sim, à mão!) pra quem está morando longe, o bom é que essa lista pode sempre aumentar...só vivendo pra saber.

Dizem que para ser feliz não tem idade, que é preciso deixar de fazer da vida um tratado. O Jabor acha que a idiotice é vital para a felicidade. Eu fico com todas as opções, melhor arriscar todas nem que seja só pra não perder a viagem.

Sem a pretensão de dar receita alguma, como já disse, preciso só me exorcizar...desejo que nunca seja fácil essa busca por ser feliz, pra não perder o valor, só preciso que seja realista, diferente do que está na televisão, na verdade, diferente de tudo que já vi, todo dia! Tudo bem, precisa de muita criatividade! Felicidade de estar correspondendo às expectativas da sociedade? Não, obrigada! Li dia desses um texto da Martha Medeiros onde ela dizia que pra ser feliz é preciso fazer o possível e aceitar o improvável. Quanto a ter filho, adotar, encontrar alguém que valha a pena viver junto, ter dinheiro o suficiente pra me sentir segura, nunca aprisionada, voluntariar e tantas coisinhas que não caberiam nesse texto...continuo querendo sim! Se isso é condição sine qua non pra ser feliz? Aí é outro assunto!

Ah! é importante também não ser tão duro com quem ainda não descobriu sua própria receita de felicidade, das pessoas que desaprenderam ou ainda nem começaram a brincadeira. Tolerância faz parte sim! E pra terminar, o mais importante...“feliz aquele que teme ao senhor e anda nos seus caminhos.” Salmos 128

25 outubro 2010

Necessidades especiais

Estou trabalhando numa ONG que cuida de pessoas com necessidades especiais. Saí do Brasil e vim pra Irlanda pensando: “Oba, vou cuidar de pessoas!”. Quanto engano... Elas que cuidam de mim e eu, que pensava que ia ensinar alguma coisa, estou aprendendo com elas lições que vou levar comigo pra vida inteira.

Elas me fizeram refletir sobre o que é ter necessidades especiais. Na verdade, olho pra elas e vejo pessoas felizes, desenvolvidas, com uma alma voluntária, um sorriso constante e uma paciência pra tentar entender o universo ao seu redor. Muitas vezes ao contrário de nós, pessoas “sem necessidades especiais”, eles conseguem encontrar alegria na simplicidade das coisas que as cercam – no agradecimento a Deus pela comida, cultivar uma flor, pintar um quadro, moldar a argila, tudo é motivo pra sorrir.

Posso citar exemplos. Conheci Paul*, que não pode falar adequadamente e tem deficiência motora em grau médio. No entanto, é impossível chegar à sua casa e não receber sua ajuda: ele tira nosso casaco, carrega nossa bolsa, mostra o caminho até a sala de estar e gesticula, tentando desenvolver uma conversa amigável. Matthew* tem Síndrome de Down. Cozinha comigo todos os dias e sempre que lhe peço algum favor, este me responde amorosamente e me dá um abraço. (Disse até que não me deixa voltar para o Brasil nunca mais!). Tânia* não distingue muito bem o que é realidade e o que é fruto de sua imaginação. No entanto, consegue ver algo positivo em todas as situações – até a mais murcha flor é bonita para ela, que não se cansa de elogiar o dia, nosso cabelo, o jogo de futebol na TV.

Aí me pego pensando quem REALMENTE tem necessidades especiais: eles ou eu? Porque, para estar feliz, preciso de saúde, dinheiro, amigos, situações climáticas apropriadas, casa, comida, roupa limpinha, todo mundo de bom humor ao meu redor e mais uma lista infindável de condições cuja ausência, algum dia, já me causou desconforto. Para eles ficarem bem, basta uma mãozinha pra colocar o açúcar no chá, abrir uma porta, empurrar uma cadeira de rodas. Todo o resto já está maravilhoso. Fico me perguntando se algum dia vou assimilar que, pra entender a graça de Deus, tenho que encontrar alegria nas coisas simples, no simples fato de ter o dom da vida e conhecer o Criador. E “necessidades especiais” tenho eu, ponto.

*Nomes fictícios.




Texto publicado no blog Cotidiano e Fé, do jornal O Povo, no dia 24/10/2010.

13 outubro 2010

Um novo COTIDIANO, a mesma FÉ


Certa vez, Jesus disse que para sermos seus seguidores é bem provável que tenhamos que abandonar pai e mãe, pegar nossa cruz e segui-lo. Há alguns dias, isso aconteceu comigo – fui desafiada a deixar família, emprego, amigos, igreja e muita coisa que amava para poder seguir um caminho que, segundo o que Deus colocou no meu coração, é o correto.
É tão bom quando já temos a nossa vida toda estruturada, quando podemos contar com aquelas pessoas no trabalho, quando sabemos que tem sempre alguém nos esperando em casa, quando as situações nos fazem pedir socorro a um amigo no fim do dia, só pra desabafar. Só tem um detalhe: quando colocamos nossas vidas nas mãos de Deus, é ELE quem passa a tomar conta de tudo. E, conforme sua soberana vontade, tudo pode  mudar de um momento para outro. Ele me tirou desta “estabilidade” e me mandou pra um país distante, com outro fuso horário, onde se fala outra língua, onde as pessoas agem de forma diferente, onde o clima é meio maluco. É nesse lugar estranho onde finalmente estou aprendendo a depender somente de Deus. Não que eu não tenha mais parentes e amigos – eles estão sempre comigo em meu coração; só que o dia inteiro somos eu e Deus. Se acontece algo engraçado, rio com Ele. Se algo me frustra, desabafo com Ele. E, sabe… não há melhor sensação neste mundo!
Deus pode, muitas vezes, fazer conosco tal como fez com João Batista: nos colocar em desertos para que possamos ouvir melhor a Sua voz e assim descobrir o propósito de nossas vidas. João descobriu que andava por aí para anunciar que o Messias estava chegando. Então… seja para me designar uma missão tão honrosa quando esta ou apenas pra falar em particular comigo, tudo já está valendo a pena – Deus é o melhor companheiro que se pode ter. Sentir Sua presença como meu melhor amigo, meu protetor e meu conselheiro é simplesmente maravilhoso. E que venha o novo cotidiano; a fé neste Deus maravilhoso continuará a mesma, sempre.
Texto publicado em 13/10/2010 no blog Cotidiano e Fé, no Jornal O Povo.