Moro num país onde o motorista dirige do lado oposto ao que se dirige no Brasil. Volta e meia tenho a sensação de ter visto uma criança de dez anos dirigindo. Então lembro que do lado de cá é o banco do passageiro. Na hora de atravessar a rua também é uma complicação – nunca sei se vem carro pelo lado esquerdo ou direito; por via das dúvidas, mesmo que a rua seja de mão única, verifico ambos os lados.
Há algumas semanas perguntaram se eu não ia fazer o curso pra tirar carteira de motorista aqui. Nem pensar! Já não sou muito fã de direção no Brasil, agora vem essa de dirigir na Irlanda… Vai ser uma complicação quando eu voltar pra minha terra no final do ano. Com tanta confusão em minha cabeça com relação ao trânsito daqui, o que tenho feito ultimamente é um exercício mental – toda vez que vejo um carro, esteja eu dentro ou fora dele, repito pra mim mesma: “Não é desse lado, não é desse lado…”. Já virou transtorno obsessivo compulsivo, mas quero estar com a cabeça no lugar quando voltar para meu país.
Escrevo essa história meio maluca porque me dei conta que, na nossa caminhada como cristãos, esse tipo de exercício mental é essencial. Todos os dias temos que encarar situações que causariam estranheza, mas, como acontecem repetidamente, acostumam nossas mentes com sua presença. Nisso incluo: violência gratuita, agressão verbal, disparidade entre fome e obesidade, família como uma “instituição falida”, mendicância, sexo casual, falta de compaixão, enfim, um rol quase infindável de situações tão rotineiras que nos anestesiam para a verdade: nada disso é normal! E nós, como seguidores de Cristo, temos que fazer todo dia o exercício mental de olhar para tudo e repetir para nós mesmos: “Não é pra ser assim, não tem que ser assim…”. Incorremos na mesma maluquice de falar sozinhos, no entanto entramos em acordo com o apóstolo Paulo, quando diz: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2)
Quero exercitar minha mente não só para estar com as ideias no lugar quando pegar o volante do carro numa estrada de minha terra. Quero estar com o pensamento inteiro bem treinado a não aceitar o inaceitável só porque ele acontece reiteradamente. Ponderando assim, Deus nos concede autenticidade no modo de pensar, o que nos leva a viver como verdadeiros cristãos, com mentes renovadas e ATITUDE frente às mazelas deste mundo. Pensar e viver desta forma, isso sim é experimentar a perfeita vontade de Deus.
Texto publicado em 21.01.2011 no blog Cotidiano e Fé, Jornal O Povo
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