Caminhava com dificuldade por conta da neve, e afundava suas pernas até quase chegar aos joelhos. Quanto ao frio? Incomodava mais quando parava por alguns instantes procurando desesperadamente por aquele algum sinal.
Olhava para cima e para os lados, para frente e para baixo, para si e para trás. A brancura machucava seus olhos e já nem sabia mais onde estava, mas sabia que estava em algum lugar e, como apostou consigo, em algum lugar havia de encontrar algo que lhe enchesse de vida em meio à paisagem morta.
Sentia-se só e cultivava um desejo crescente de dar cabo a tudo aquilo pelo qual havia passado. A sorte lhe tirara tudo que mais amava e acreditava piamente que em meio à estérie paisagem, encontraria uma finalidade ou o seu fim.
Estava cansada e cambaleante e, antes que pudesse perder os sentidos, perdeu o chão. Tombou lateralmente e desceu aos trombos no barranco que mais parecia planície pela confusão do branco fundindo céu e terra. Aterrissou violentamente revirando uma porção mais fina de neve e revelando um botão de flor amarelo-vivo sem par.
Sem forças para levantar, ficou imóvel. Admirava o botão como se tudo ao redor fosse apenas uma moldura dedicada àquela flor. “O mundo inteiro é uma moldura”, sussurrou suavemente como se soprasse ao próprio ouvido a verdade mais importante que já se deparara.
Inevitavelmente comparou-se ao ser vivo à sua frente. Percebeu que havia semelhanças entre a sobrevivência deste ser em um ambiente hostil e sua vida. Ao elevar sua mente para tais pensamentos, não teve o desprazer de sentir seus músculos enrijecerem e a circulação diminuir pouco a pouco, levando o frio de suas extremidades ao coração que batia fraco.
Como um pequeno iglu, suas mãos cercaram a pequena flor, dando-lhe a proteção da qual nunca foi provida. E assim permaneceu até ser encontrada dias depois.
Ao fim da vida, sentiu-se fraca o bastante para perder o senso de normalidade e entregar-se a morte como uma saída, e por isso foi julgada como louca. Mas em seus instantes finais, ofereceu proteção à vida de uma flor. Qual a dimensão e o valor que damos à vida como um todo? Qual o sentido dessa passagem ou deste fim? Em alguns casos somos medidos pelo que cultivamos, em outros pelo que somos lembrados e até mesmo pelas ações que modificaram nossos pares. Acredito na moldura em que estamos inseridos e como ao final visualizaremos este quadro em que somos a pintura e o pintor, e que ao final, quando nosso quadro for assinado, nossa ultima cena reflita o que fomos quando em branco todos começamos.
Este texto foi presente de um amigo muito querido e, dentro em pouco, distante. Amei mais do que qualquer outro presente. Por isso está aqui.
Olhava para cima e para os lados, para frente e para baixo, para si e para trás. A brancura machucava seus olhos e já nem sabia mais onde estava, mas sabia que estava em algum lugar e, como apostou consigo, em algum lugar havia de encontrar algo que lhe enchesse de vida em meio à paisagem morta.
Sentia-se só e cultivava um desejo crescente de dar cabo a tudo aquilo pelo qual havia passado. A sorte lhe tirara tudo que mais amava e acreditava piamente que em meio à estérie paisagem, encontraria uma finalidade ou o seu fim.
Estava cansada e cambaleante e, antes que pudesse perder os sentidos, perdeu o chão. Tombou lateralmente e desceu aos trombos no barranco que mais parecia planície pela confusão do branco fundindo céu e terra. Aterrissou violentamente revirando uma porção mais fina de neve e revelando um botão de flor amarelo-vivo sem par.
Sem forças para levantar, ficou imóvel. Admirava o botão como se tudo ao redor fosse apenas uma moldura dedicada àquela flor. “O mundo inteiro é uma moldura”, sussurrou suavemente como se soprasse ao próprio ouvido a verdade mais importante que já se deparara.
Inevitavelmente comparou-se ao ser vivo à sua frente. Percebeu que havia semelhanças entre a sobrevivência deste ser em um ambiente hostil e sua vida. Ao elevar sua mente para tais pensamentos, não teve o desprazer de sentir seus músculos enrijecerem e a circulação diminuir pouco a pouco, levando o frio de suas extremidades ao coração que batia fraco.
Como um pequeno iglu, suas mãos cercaram a pequena flor, dando-lhe a proteção da qual nunca foi provida. E assim permaneceu até ser encontrada dias depois.
Ao fim da vida, sentiu-se fraca o bastante para perder o senso de normalidade e entregar-se a morte como uma saída, e por isso foi julgada como louca. Mas em seus instantes finais, ofereceu proteção à vida de uma flor. Qual a dimensão e o valor que damos à vida como um todo? Qual o sentido dessa passagem ou deste fim? Em alguns casos somos medidos pelo que cultivamos, em outros pelo que somos lembrados e até mesmo pelas ações que modificaram nossos pares. Acredito na moldura em que estamos inseridos e como ao final visualizaremos este quadro em que somos a pintura e o pintor, e que ao final, quando nosso quadro for assinado, nossa ultima cena reflita o que fomos quando em branco todos começamos.
Este texto foi presente de um amigo muito querido e, dentro em pouco, distante. Amei mais do que qualquer outro presente. Por isso está aqui.
Um comentário:
A mente deste mundo tem sido o pintor. As políticas, as ideologias, as filosofias... e as religiões as molduras. E a massa a pintura.
Edson Carmo
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