Hoje fui à
penitenciária feminina. A igreja à qual pertenço trabalha com a restauração de
caráter das pessoas lá de dentro, num esquema de 12 passos que nem o dos
Alcoólicos Anônimos. Bem legal. Eles avisaram que tinha uma estrangeira lá que
falava inglês e queria participar das reuniões. E lá vou eu de intérprete.
É engraçado
como, por mais moderninha que eu me sinta, mais vivida e andada neste mundo,
Deus ainda me mostra como vivo numa bolha. A bolha do conforto da minha casa e
igreja, a bolha da boa educação e oportunidades que meus pais e tutores me
proporcionaram. É uma bolha abençoada, mas ainda é uma bolha. O mundo fora dela não está para brincadeira.
O que vejo ali são mulheres em sua maioria sem instrução alguma - não
falo somente de analfabetismo, mas falo de falta de princípios basilares da
moral, ética, educação. Percebo até certo nível de infantilidade nos
comentários que fazem. Não quero entrar na defesa de suas causas, já condenadas
pela Justiça, mas defendo que todo ser humano tem direito à sua bolha: uma
redoma permeada de carinho, instruções e oportunidades para amadurecer e ser
GENTE, com toda a categoria da palavra.
O trabalho
que fazemos não tem abrangência em toda a prisão - restringe-se apenas à
creche, ou seja, trabalhamos com gestantes e mães de bebês. Isso torna a
questão toda mais delicada ainda: elas veem uma nova vida nascendo e desejam
ter oportunidade de acompanhar esse processo. Mas suas escolhas do passado não
permitirão que isso aconteça. Na maioria dos casos, por causa da falta da
bolha.
Agradeça a Deus se você vive numa bolha. Se tem ou teve família,
educação, orientação; não é pra todo mundo. E, se doer o coração pensar nisso
tudo, faça alguma coisa por quem não teve as mesmas oportunidades que você.